Coragem para viver a vida devagar

Coragem para viver a vida devagar

Mariana Beluco

Mariana Beluco

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não

Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara

Nas palavras dos compositores Dudu Falcão e Lenine, na música Paciência, lembramos do quanto às vezes é preciso parar para avaliar se a correria em que vivemos é mesmo necessária.

Será que precisamos ter tanta pressa? Olhar para o relógio e sentir que estamos atrasados, mesmo quando não estamos? Buzinar para o carro da frente assim que o sinal abre? Pedir licença à pessoa diante de nós na escada rolante do metrô, só para que possamos correr escada abaixo? Trocar a ligação pela mensagem de texto, para não correr o risco de falar demais? Acelerar o áudio que o amigo enviou? Assistir ao vídeo na velocidade 2x? Comer um sanduíche às pressas, enquanto dirigimos para a aula? Aproveitar o intervalo do trabalho para resolver mais cinco pendências? Responder ao email que chegou às 23h, para adiantar o assunto de amanhã de manhã?

Quantas pequenas coisas fazemos no dia a dia que sinalizam ao nosso cérebro que estamos com pressa demais, atrasados demais, com coisas demais a serem resolvidas? Como será que o nosso corpo reage a todos esses estímulos, sem que nós nem percebamos?

É preciso ter coragem para viver a vida devagar. Para contemplar uma flor no canteiro, diminuindo o passo a caminho do escritório. Para parar e cumprimentar o porteiro. Para esperar o filho sair do banheiro e dar-lhe um abraço antes de sair para trabalhar. Para dizer não àquela demanda fora de hora e saber que ela pode esperar até amanhã. Para deixar o celular de lado enquanto janta com o parceiro. Para passear com o cachorro enquanto ouve música. Para desfrutar do barulhinho do mar à noite, em silêncio. Para ler um livro com calma. Para assistir a um filme em família…

É preciso ter coragem para dar à vida o seu próprio ritmo e não simplesmente aceitar aquele que ela tenta impor, afinal, quem vai pagar pelos momentos perdidos, pelo tempo que você não viu passar, pelos filhos que não viu crescer, pelo relacionamento que acabou, pelo abraço que deixou de dar, pelos momentos que não passou com os pais, pelas atividades que deixou de fazer, pelos sonhos que desistiu de realizar, pela comida que não saboreou, pela vida que deixou de viver?

É preciso ter coragem para viver a vida devagar, mas é preciso muito mais coragem para ver a vida passar depressa e não fazer nada para mudar.